O câncer de cabeça e pescoço representa os tumores malignos do trato aerodigestivo superior que abrange região da face, cavidades nasais, cavidade oral, faringe, laringe, tireoide, tecidos moles do pescoço e pele da face e couro cabeludo, representando 5% de todos os tipos de câncer. Epidemiologicamente é a quinta neoplasia maligna mais comum no mundo, com uma incidência anual de 780 mil casos.
Esses tipos de tumores ocorrem com maior frequência em indivíduos do sexo masculino e na faixa etária acima de 50 anos de idade, sendo o tipo histológico mais comum os carcinomas epinocelulares. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença, disparadamente estão os hábitos de vida, como consumo de tabaco e álcool, estando entre outros fatores má dentição, desnutrição, infecções virais pelo papiloma humano (HPV) ou Epstein-Bar (EBV), consumo de bebidas quentes, exposição ao sol e predisposição genética.
Os métodos terapêuticos utilizados para o tratamento das neoplasias de cabeça e pescoço incluem as ressecções cirúrgicas, a radioterapia e a quimioterapia em conjunto ou separadamente. Embora esses tratamentos sejam efetivos na erradicação do tumor e aumento da sobrevida, as sequelas estéticas e funcionais decorrentes do tratamento são a grande causa de morbidade entre os pacientes, levando a impacto físico, psicológico e social.
Nesse contexto a fisioterapia oncológica tem relevante papel no atendimento ao pacientes com câncer de cabeça e pescoço, com objetivo de preservar, desenvolver, restaurar a integridade cinética e funcional, como também prevenir alterações causadas pelo tratamento do câncer de cabeça e pescoço.
As principais disfunções relacionadas aos tumores de cabeça e pescoço em que a fisioterapia pode atuar são: dor, perda de força muscular, limitação de amplitude de movimento e funcionalidade do ombro homolateral, edemas e linfedemas de face, paralisia facial, trismo e lesão nervosa gerando a “síndrome do ombro doloroso”. Essas alterações podem ocorrer devido à tentativa de retirada completa do tumor ou de linfonodos cervicais comprometidos (esvaziamento cervical), lesionando estruturas regionais importantes como músculo esternocleidomastoideo, veia jugular interna, nervo acessório e estruturas linfáticas.
Todas essas complicações são fatores limitantes, que impactam negativamente na qualidade de vida do paciente com câncer de cabeça e pescoço, porém a instituição de um programa de fisioterapia direcionado e individualizado logo no pós-operatório imediato é capaz de prevenir e/ou minimizar tais sequelas.
Por exemplo, em relação à dor, a fisioterapia pode utilizar de diversas técnicas de alongamento, relaxamento, liberação miofascial e cicatricial, acupuntura e eletroestimulação para o seu alivio.
A lesão do nervo acessório, com consequente paralisia do músculo trapézio é o principal fator que desencadeia a síndrome do ombro doloroso, fazendo com que o fisioterapeuta após avaliação criteriosa e suspeita de lesão nervosa, solicite exames complementares como a eletroneuromiografia para diagnosticar lesões parcias ou totais e assim traçar um tratamento fisioterapêutico correto e que não gere falsas expectativas nos pacientes. Após traçar seus objetivos a restauração da funcionalidade do ombro pode ser adquirida por meio da cinesioterapia.
O linfedema de face, pode acontecer devido bloqueio linfático pela cicatriz, radioterapia, fibrose intersticial ou progressão da doença (metástase linfonodal), estando entre o padrão ouro para seu tratamento a Terapia Descongestiva Complexa (TDC), que compreende a drenagem linfática, enfaixamento compressivo, exercícios miolinfocinéticos, cuidados com a pele, e auto-cuidado. Uma das limitações da TDC é necessidade do uso de uma malha compressiva na fase de manutenção, que faz com que poucos pacientes consigam aderir ao tratamento.
Esses são apenas alguns exemplos do que pode ser realizado pela fisioterapia em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, muitas são as dificuldades que aflingem esses pacientes, ainda podemos citar o trismo – dificuldade para abertura da boca – ou as paralisias faciais que geram problemas emocionais e sociais, tendo em todos esses casos recursos fisioterapêuticos que possam ser disponibilizados a esses pacientes para melhorar seu bem-estar e qualidade de vida. Devendo ao profissional ser especializado no atendimento desses pacientes por conhecer os aspectos relacionados à doença e todas as particularidades que o envolve.
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